Médicos condenam uso de hormônio da gravidez para emagrecer

Juliana Vines

Duas entidades médicas se uniram contra o uso de hCG, conhecido como o hormônio da gravidez, em dietas para emagrecer. A Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e a Abeso (associação de estudo da obesidade) emitiram um posicionamento conjunto nesta quarta-feira condenando a prática, que, segundo as entidades, está cada vez mais comum.

“Muitos médicos estão prescrevendo hCG associado a uma dieta muito restritiva. Virou uma febre”, diz Cintia Cercato, endocrinologista e presidente da Abeso. Tanto que no Google as buscas com o termo “dieta do hCG” aumentaram 257% no último ano no Brasil. 

A sigla hCG vem de um termo em inglês e quer dizer gonadotrofina coriônica humana. É o hormônio detectado nos testes de gravidez e utilizado em tratamentos de fertilização in vitro para estimular a ovulação.

O uso do hormônio associado a uma dieta hiperrestritiva não é novidade. Em 1954, o pesquisador britânico Albert T. W. Simeons publicou um livro em que relatava uma série de experimentos com a substância e afirmava que o hCG poderia trazer “um alívio para todos os casos de obesidade” . O livro chama “Pounds and Inches” (“Libras e Polegadas”).

A dieta proposta por Simeons incluía, além de injeções de hCG, um cardápio de 500 calorias por dia (dá no mesmo que uma porção grande de batata frita do fast food mais próximo e é igual a um terço do que uma mulher adulta deve comer, em média). Segundo o autor, a função do hCG, seria, além de ajudar na perda de gordura, não deixar a pessoa sentir fome mesmo com tão pouca comida.

O problema é que os trabalhos de Simeons foram questionados anos depois. “Tem muitos estudos bem controlados e bem conduzidos mostrando que o que faz perder peso é a dieta muito restrita. Se você tomar placebo ou hCG dá na mesma”, diz Cercato.

Além disso, a substância traz uma série de riscos. “Aumenta a produção de hormônios, porque estimula os ovários. Tem sido relatados casos de trombose, cistos ovarianos, AVC”, complementa a médica.

A dieta do hCG dura, em geral, 40 dias e, segundo Simeons, perde-se em média 1 libra por dia (450 g). As dietas vendidas no Brasil anunciam perda de até 1 kg por dia, sem diminuir a massa muscular, o que é questionado por Cercato.

“EU FIZ”

Marina Teixeira, 27, fez a dieta do hCG em julho do ano passado por sugestão de uma ginecologista. Por 40 dias ela seguiu um cardápio de 500 calorias e tomou o hormônio em forma de comprimido sublingual.

“Eu não senti fome nem fraqueza. Não tive efeitos colaterais. Funciona, emagrece rápido. Perdi 500, 700 g por dia, em média”, conta. No total, foram 10 quilos eliminados.

Mas, em seis meses, o peso voltou. “Como é uma dieta muito restritiva quando acaba você fica alucinada. Quer comer tudo o que não pode. É um regime que muda o corpo, mas não muda a cabeça”, diz.

Depois da experiência, ela procurou um nutricionista e começou a seguir um cardápio equilibrado. “É muito difícil. Descobri que tenho uma dependência emocional e até física de comida. A nova dieta é fácil de fazer. O desafio é se controlar no final de semana e em festividades.”

Ela conta sua guerra contra a balança no blog  “Emagreci com Dieta hCG… e engordei de novo!”.

O fato de Marina ter engordado de novo é culpa, principalmente, do cardápio de 500 calorias. “É uma dieta muito restritiva. Mas além disso ainda tem o risco do hormônio. Queremos coibir essa prática. Sabemos que em São Paulo e Minas Gerais há clínicas que só fazem isso”, afirma Cercato.