Manifesto internacional pede que comida seja regulada como cigarro
Um manifesto publicado pela Consumers International, organização internacional de defesa do consumidor, pede que alimentos industrializados sejam regulamentados da mesma forma que o cigarro.
Entre as medidas sugeridas pelo documento está a proibição de publicidade de produtos não saudáveis para crianças e a adoção de rótulos frontais com informações claras –incluindo alertas sobre altas quantidades de gordura, sal ou açúcar, por exemplo.
“Estamos fazendo uma campanha mundial para que se aprove uma convenção de alimentos saudáveis nos mesmos moldes da convenção para o controle do tabaco, da Organização Mundial da Saúde. Só assim os governos terão força para enfrentar a indústria”, disse ao blog o chileno Juan Trímboli, diretor regional da Consumers International (para América Latina e Caribe).
Em vigor desde 2005, a Convenção-Quadro para Controle do Tabaco determinou a adoção de uma série de medidas contra o tabagismo, entre elas a regulamentação de embalagens e impostos para desencorajar a compra de cigarro. Mais de 170 países já aderiram ao tratado.
Para a Consumers International, já está mais do que na hora de também fechar o cerco contra produtos industrializados não saudáveis.
“A obesidade é uma epidemia. Em todos países latino-americanos praticamente 50% dos adultos está com sobrepeso (no Brasil, 52,5% da população adulta está acima do peso)”, afirma Trímboli.
Segundo ele, há avanços na regulação em alguns países da região. No Equador, por exemplo, desde 2013 os rótulos dos alimentos industrializados mostram se o produto tem alto, médio ou baixo teor de gordura, sal e açúcar. Na frente da embalagem há uma sinalização seguindo as cores do semáforo (vermelho se for alto, amarelo para níveis médios e verde para níveis baixos).
No Brasil, em 2010 a Anvisa baixou uma medida obrigando os fabricantes a colocar frases de alerta nos rótulos dos alimentos, mas a resolução foi suspensa pela Justiça a pedido da indústria.
Para Trímboli, os alertas nos rótulos são uma tendência mundial. No Reino Unido, desde 2013 as embalagens exibem de forma clara a quantidade de calorias, gordura, sal e açúcar. Os nutrientes também são classificados em níveis (baixo, médio ou alto) e indicados por cores –de novo seguindo o semáforo.
Além de rótulos mais claros, o manifesto internacional pede que sejam tomadas medidas para que os alimentos vendidos nas escolas sejam mais saudáveis e que aumentem os impostos sobre comidas processadas ricas em gordura, sal e açúcar.
“O consumo desses produtos é uma das principais causas do aumento da obesidade. Há outras, claro. É preciso mudar a cultura da família, que está cada vez mais acostumada com comidas rápidas e não saudáveis. Mas para isso é fundamental que as pessoas saibam o que estão comendo. Hoje o rótulo não diz nada, e o que diz, a população não entende.”
O documento foi assinado por 22 organizações, entre elas três brasileiras: o Instituto Alana, a Proteste (Associação Brasileira de Defesa do Consumidor) e o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).