Após o “antes e depois”: Por que os participantes de reality shows voltam a engordar
Uma pesquisa publicada ontem no jornal científico “Obesity” acompanhou durante seis anos 14 ex-participantes do reality show americano de emagrecimento “The Biggest Loser” (ou “Perder para Ganhar”), transmitido no Brasil pelo canal pago Discovery Home & Health.
No programa, que já está na 17ª edição, obesos ficam confinados em um centro de treinamento e perdem muito peso graças a uma rotina pesada de dieta e exercícios físicos. O vencedor da última temporada, que terminou em fevereiro, emagreceu 72 quilos (foi de 157 kg no começo do reality para 85 kg no final).
O estudo, coordenado por Kevin Hall, pesquisador do National Institutes of Health, descobriu que o emagrecimento radical desacelera o metabolismo basal dos participantes –ou seja, reduz a quantidade de calorias gastas pelo organismo em repouso. Isso torna quase impossível a manutenção do peso depois que o programa termina.
Uma reportagem publicada no jornal “New York Times” contou a história de alguns participantes, entre eles Danny Cahill, 46, palestrante e músico que perdeu 109 quilos durante a 8ª edição do programa, em 2009.
Ele foi de 195 kg para 86 kg em sete meses, um recorde do programa. Hoje, pesa 133 kg: recuperou 47 em seis anos.
“Quanto mais bem sucedido você for na perda de peso, mais lento vai ficar seu metabolismo e mais fome você vai sentir”, disse Hall em um vídeo publicado pelo “NYT”.
Para tentar descobrir por que é tão difícil manter o peso depois de um regime radical, a equipe de Hall submeteu os 14 ex-participantes da 8ª temporada do programa a três dias de testes. O peso e os níveis de atividade física dos voluntários também foram monitorados. Os resultados mostram que os participantes queimam menos calorias do que deveriam.
Cahill, por exemplo, gasta, em média 800 kcal a menos por dia do que um homem da sua idade.
O mesmo aconteceu com o pastor Sean Algaier, 36, que hoje queima 458 calorias a menos do que quando entrou no programa. Durante o reality, ele foi de 201 kg para 131 kg. Hoje pesa 204 kg.
Não há nenhuma novidade na relação entre emagrecimento e redução no metabolismo. Acontece: pesando menos, o organismo precisa de menos energia para sobreviver.
O problema é que, no caso dos participantes do programa, o metabolismo caiu cada vez mais com o passar do tempo, como se o organismo lutasse para recuperar o peso perdido. Além disso, os pesquisadores descobriram que os níveis de leptina, hormônio que regula a fome, reduziram quase que pela metade, o que pode explicar episódios de compulsão alimentar.
A reportagem do “NYT” procurou o médico do programa “The Biggest Loser”, Robert Huizenga, e ele disse que manter a perda de peso é sempre difícil, por isso recomenda aos ex-competidores que controlem a dieta e se exercitem pelo menos nove horas por semana.