Estudo questiona a relação entre consumo de gordura e ganho de peso

Juliana Vines
Uma pesquisa publicada ontem na revista científica Lancet questiona leis da nutrição ao mostrar que nem sempre comer alimentos ricos em gordura leva ao ganho de peso. Pelo contrário, na pesquisa, que acompanhou 7.447 voluntários por cinco anos, a dieta que teve o pior resultado foi aquela que cortou a ingestão de comidas gordurosas.Isso não quer dizer que o consumo de bacon está liberado, mas é mais um golpe contra as dietas que pregam a baixa ingestão de gordura, principalmente de origem vegetal –azeites e castanhas, por exemplo.
Castanha-do-pará, que tem 63 gramas de gordura e 643 calorias em 100 g do alimento
Castanha-do-pará, que tem 63 gramas de gordura e 643 calorias em 100 g do alimento

Os voluntários foram divididos em três grupos, cada um seguiu um cardápio diferente. No primeiro, os participantes adotaram a dieta mediterrânea, baseada no consumo de peixes, vegetais, frutas, pão e cereais integrais. Além de seguir o regime, eles ganharam azeite de oliva e foram instruídos a consumir 50 ml por dia (cerca de 415 calorias).

No segundo grupo, em vez de azeite, os participantes ganharam castanhas e foram aconselhados a comer 30 gramas diariamente (aproximadamente 200 calorias). E, no último grupo, a orientação era evitar o consumo de qualquer tipo de gordura.

Em cinco anos, todo mundo perdeu um pouco de peso, mas quem mais perdeu foram aqueles que ingeriram azeite de oliva –em média, os participantes desse grupo baixaram cerca de um quilo.

O tamanho da cintura de todos os participantes subiu ligeiramente. De novo, quem teve o pior resultado foi o grupo que comeu menos gordura (os voluntários ganharam cerca de 1,2 centímetros de cintura).

“As políticas de saúde têm defendido a restrição da gordura há 40 anos, mas isso não têm significado redução nos níveis de obesidade”, diz Ramon Estruch, pesquisador da Universidade de Barcelona e coordenador do trabalho.

“Nosso estudo mostra que uma dieta rica em gorduras vegetais teve pouco efeito sobre o peso corporal ou a circunferência da cintura em comparação com uma dieta com restrição de lipídios”, diz. Mas alerta: “Nossos resultados certamente não indicam que as dietas com altos níveis de gorduras não saudáveis, como manteiga, carnes processadas e fast-foods, são benéficas.”

SEGUNDO CAPÍTULO

Não é a primeira vez que a ciência redime a gordura. Há dois anos, uma pesquisa publicada no periódico “Annals of Internal Medicine” questionou a relação entre a ingestão de gordura saturada e a ocorrência de doenças cardiovasculares. Quem comia mais esse tipo de gordura, considerada não saudável, não tinha mais doenças do coração.