Gigantes de bebidas tiram refri das escolas, mas mantêm sucos muito doces

Juliana Vines

Ambev, Coca-Cola e PepsiCo anunciaram hoje que não vão mais vender refrigerantes e bebidas gaseificadas em escolas com crianças de até 12 anos. No lugar, serão comercializados apenas sucos com 100% fruta, água mineral, água de coco e bebidas lácteas.

A decisão foi anunciada pelas empresas como uma medida para ajudar a combater a obesidade infantil no país. “No momento do recreio, os alunos têm acesso às cantinas escolares sem a orientação e a companhia de pais e responsáveis, e crianças abaixo de 12 anos ainda não tem maturidade suficiente para tomar decisões de consumo”, diz o comunicado conjunto, divulgado hoje.

O problema é que esses sucos, mesmo com 100% fruta, tem tanto açúcar quanto refrigerante –ou até mais– e mais calorias.

Um copo (200 ml) de Coca-Cola tem 21 gramas de açúcar e 85 kcal. Já o suco de laranja Del Valle 100%, também da Coca-Cola, que será vendido nas cantinas, tem 24 gramas de açúcar (o equivalente a cinco colheres de chá) e 100 kcal.

SUCO

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“Em relação à quantidade de açúcar dá na mesma. Qualquer tipo de bebida doce, mesmo um suco só com fruta, tem o que chamamos de ‘açúcar livre’. Podemos ingerir no máximo 10% das calorias diárias na forma de açúcar”, afirma a nutricionista Ana Paula Bortoletto, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor).

Outro problema, segundo ela, é que os sucos industrializados são diferentes do suco natural feito na hora. O Del Valle de uva 100%, por exemplo, tem aromatizante, vitamina C e fibra alimentar.

“Não é a mesma coisa. Eles usam suco reconstituído e adicionam outros ingredientes além da fruta.”

De acordo com ela, o melhor mesmo é substituir suco por fruta e água. “Assim dá para se hidratar e ingerir todas as propriedades do alimento.”

Segundo o documento, além de suco e água, as empresas vão comercializar nas cantinas “bebidas lácteas que atendam a critérios nutricionais específicos”. A PepsiCo informou que vai deixar de vender Toddynho.

“Esses produtos têm só 50% de leite, o resto é água e açúcar. Não tem nenhuma qualidade nutricional, nem mesmo o benefício de consumir mais proteína”, diz Bortoletto. Para ela, a decisão é um primeiro passo. “Espero que seja só o começo.”

O LADO DAS INDÚSTRIAS

“É claro que fruta é melhor do que suco, mas somos uma empresa de bebidas. E muitas cantinas não têm como vender a fruta in natura. Pensando no que podemos fazer, acho que isso é o melhor possível”, diz Andrea Mota, diretora de Categorias da Coca-Cola Brasil.

Segundo ela, os sucos 100% fruta têm adição de fibras, para retardar a absorção da glicose pelo organismo.

A assessoria de imprensa da Ambev, responsável pelo Guaraná Antarctica, informou que, além de refrigerantes, deixará de vender chás prontos. A empresa ressalta que os únicos sucos vendidos são da marca Do Bem, sem adição de açúcar nem conservantes.

A PepsiCo informou por meio de nota que está orgulhosa com o novo posicionamento. “A empresa acredita que essa iniciativa trará resultados positivos para as famílias seguirem as suas escolhas em relação à alimentação dos filhos em idade escolar. As cantinas continuarão sendo abastecidas com outras opções, como água de coco, por exemplo.”