Em tempos de coronavírus, nutrólogo diz o que ajuda na imunidade e o que é fake news
O nutrólogo Daniel Magnoni recebeu uma chuva de mensagens dos seus pacientes na última semana. Todos querem uma receita para aumentar a imunidade diante da explosão do número de casos de coronavírus.
A resposta do médico, que é chefe de nutrologia do Instituto Dante Pazzanese e do HCor, em São Paulo, é que não existe uma fórmula para evitar o contágio pelo vírus, que surgiu na China e até agora já infectou mais de 83 mil pessoas.
“Mas, se o coronavírus pegar você bem nutrido, é melhor do que se ele pegar desnutrido”, diz.
Segundo ele, pesquisas mostram que a dieta tem um papel importantíssimo na imunidade. “É claro que outros fatores, como sono e estresse, também interferem, mas eu não posso tirar o estresse da pessoa, e muitas vezes ela não consegue dormir mais ou melhor. Então o que posso dizer é: coma bastante proteína e três frutas por dia.”
O nutrólogo explicou a relação entre dieta e imunidade e deu outras recomendações na entrevista abaixo.
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Existe uma relação direta entre dieta e imunidade?
Sim, sem dúvida. A dieta é um dos pontos principais. Não tem como aumentar a imunidade sem mudar a alimentação. A produção de células de defesa depende disso. O desnutrido tem baixa imunidade; o idoso com sarcopenia, perda de massa muscular, tem baixa imunidade.
Uma mudança na dieta pode ter efeito rápido no aumento da imunidade?
Sim. Estudos mostram que cinco dias depois de uma mudança na dieta já começa a melhorar uma coisa chamada habilidade orgânica de produzir proteínas. O que prova isso é um exame chamado pré-albumina.
Quais alimentos ajudam a aumentar as defesas do organismo?
A proteína é o fator mais associado com a melhora da imunidade. Para pessoas desnutridas ou pacientes convalescentes sempre indicamos uma maior ingestão de proteínas. As proteínas estão relacionadas com a produção das células de defesa: glóbulos brancos e anticorpos.
Além disso, você também tem que aumentar a ingestão de oligoelementos, vitaminas e minerais relacionados com essa produção: zinco, selênio, magnésio, cálcio e vitaminas A, B e C. As frutas são as melhores fontes desses nutrientes.
Pode ser qualquer tipo de proteína ou tem que ser proteína animal?
Qualquer tipo, proteína animal, whey protein, o que quiser. A proteína animal tem um coeficiente maior, um índice, chamado QR, que mede a habilidade do alimento ingerido, depois da digestão, ser capaz de produzir proteína no nosso organismo.
A melhor proteína vegetal é a soja, que tem o perfil de aminoácidos mais parecido com o da proteína animal. Mas a proteína animal é ainda melhor.
Se você não come carne, pode comer ovo, se não come nem carne nem ovo, tome leite. Se não ingere nada disso, se é um vegetariano estrito, não quer dizer que vai ter imunidade zero, mas tem que se concentrar nos vegetais com bastante proteína: trigo, ervilha, soja e leguminosas de uma forma geral. Quanto mais in natura o vegetal, maior seu aporte de proteínas e minerais. Brócolis cozido tem menos propriedades do que brócolis fresco na salada.
Alguma fruta é mais indicada? As cítricas, por exemplo?
Não tem nada a ver. Coma todo tipo de fruta, pode ir variando. Três frutas por dia.
E outros alimentos que muitas vezes são associados com imunidade, como gengibre e alho? Eles têm algum efeito?
Não. Nem isso nem antioxidante ou chá verde, tudo isso é fake news. Estou falando de medicina baseada em evidências. O que ajuda são alimentos que fornecem nutrientes necessários para a habilidade orgânica de produzir proteínas, ou seja, basicamente a própria proteína, vitaminas e minerais. Há diretrizes internacionais de sociedades de nutrição que corroboram essas informações.
Castanhas e outras oleaginosas podem ajudar?
Podem sim. São fontes de zinco, selênio e gordura monoinsaturada. Não tem dose para isso, mas tem que ficar de olho nas calorias.